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É nítido que a moda vinda da periferia é muitas vezes desvalorizada e ridicularizada. Diante do forte contraste no mundo da moda decidimos mostrar a realidade de um projeto em uma das periferias mais famosas de São Paulo, Paraisópolis.

 

“A gente resgata autoestima de quem mora na periferia”, conta Alex Santos. Ele é Fundador do Periferia Inventando Moda (PIM), iniciado em 2014 em Paraisópolis. O projeto visa deixar a moda acessível dentro da comunidade, dando oportunidade para homens e mulheres que desejam seguir este caminho.

 

 

O PIM conta com a formação de pessoas da periferia, para que consigam ter visibilidade no mercado. “Selecionamos modelos, não só de Paraisópolis, mas também de outras comunidades e temos dois grandes eventos anuais para mostrar nosso trabalho”, ressalta. Alex ainda diz que dá aulas de desfile todo domingo e abre regularmente novas inscrições no CEU (Centro Educacional Unificado), local onde ocorre o projeto.

 

Para o fundador, a comunidade já tem uma fama de ambiente “pesado” , por ser fortemente marcado pela violência. “Tirar pessoas da vida do crime e protagonizá-las nesse momento, é uma das prioridades”, explica.

 

Além da questão econômica, a moda também tem papel fundamental na formação da personalidade individual de cada um. O medo de ser julgado e ridicularizado pela forma de se vestir, impede que inúmeros jovens,  de diferentes classes sociais,  se vistam da forma que realmente querem.

 

Esse parâmetro é quebrado pela professora de Hip Hop, Leticia Santos, que tem como lema a caracterização de estilo pessoal. Adepta ao estilo que ensina, ainda gosta de chamar atenção com suas roupas. "Eu me visto dessa forma, pois gosto que as pessoas olhem, se identifiquem e saibam que podem andar da forma que quiserem". Ela ainda ressalta que suas principais inspirações são Flora Mattos e Rihanna. E finaliza: “empodero a mim mesma, e posso vestir o que eu quiser.”

 

O empoderamento pessoal por meio da moda é outro fator de extrema importância para Denise Sena (21) e Cris Badu (32). Com o auxílio de Alex Santos, elas criaram o projeto Empodere-se, uma iniciativa que procura passar autenticidade e diferença no mundo da moda. "Nós vemos muitas mulheres que não se valorizam, que se acham feias, gordas e sem personalidade. Mulheres que deixam outros dizerem o que elas podem ou não vestir.

 

Fazer a diferença na vida das pessoas faz parte da rotina dos três. Alex afirma que quer resgatar a identidade e autoestima que está adormecida nas pessoas. Denise relata ”queremos fazer a diferença na vida dessas mulheres e mostrar que elas podem ser quem elas quiserem ser" . Alex ainda completa “queremos ter  nossa própria identidade e também mostrar para elite que conseguimos , sim , fazer as coisas que eles acham que nós não conseguimos.”

 

 

O projeto ganha, cada vez mais, força e destaque. Já passaram por programas de televisão, como Encontro com Fátima Bernardes - na Tv Globo, Hoje em dia - na rede Record, e também em jornais como Folha de São Paulo e Estadão. “Nós somos um movimento Fashion que continuará dando novas linguagens para as pessoas”, finaliza Alex.

A PERIFERIA QUE TEM VOZ E INVENTA MODA

​

Stephany Santana

"Eu não me vestia assim antes e, hoje, quero passar liberdade para as pessoas. Não tenho padrão formado, eu sou diferente!"

Moda e proximidade social caminham lado a lado

Considerada como o intermédio entre a tendência e o costume em um determinado grupo e momento, a moda é uma constante mudança social. Neste contexto, é notável que a moda nem sempre está voltada para o público deficiente. “A moda faz você consumir cada vez mais, só que não há devida inclusão e acessibilidade”, diz José Luis de Andrade, professor e mestre em moda, arte e cultura.

 

Estar na moda não é mais sinônimo de usar uma bolsa Prada ou uma calça Gucci. O avanço da tecnologia, que permite a compra online através de e-commerce, somado à crise econômica, que aumenta a demanda das chamadas redes Fast-Fashion, e o crescimento de brechós e blogs alternativos, tem como resultado uma moda cada vez mais acessível à todos os públicos.

 

Um levantamento de dados de pesquisas realizadas através do site da Google mostram que o mercado da moda online movimentou cerca de 15 bilhões de reais nos últimos anos, sendo 58% desse público mulheres que buscam uma moda mais fácil e barata. Fomos atrás de um dos brechós luxuosos mais famosos de São Paulo, o Degriffée, onde um sapato tipo mocassim da Louboutin, que na loja física custa em torno de 2.000 reais, lá pode ser adquirido por cerca de 700 reais.

 

Com a grande crise que se agrava desde 2011, muitas pessoas optam por redes de compras de departamento, já que possuem preço mais acessível e um leque amplo de variedades. Para Giovanna Spilborghs, co-criadora do blog Pechincha Is The New Black, é uma tendência natural acreditar que é preciso gastar muito para estar bonita. “A gente quer mostrar o oposto na realidade, mostrar  que é possível, sim, se vestir bem sem gastar muito”, explica a blogueira.

 

A moda também se torna mais acessível na periferia, atingindo patamares sociais que antes eram tidos como excluídos, já que o padrão moda bonita era sinônimo de bens de consumo caríssimos usufruídos por classes altas. Em Paraisópolis, por exemplo, mais de 70 modelos fazem parte do PIM (Periferia Inventando Moda), um projeto que protagoniza pessoas na favela e mostra que não é só a elite que sabe fazer moda.

 

“A periferia também cria moda. Ela vem da rua e volta pra ela”, diz Alex Santos, fundador do PIM. Ele ainda completa dizendo que dar brilho às pessoas da comunidade é o que faz a diferença em seu projeto que transforma muitas vidas.

 

Hoje, a protagonização da moda, ocorre também pelo aumento da conscientização e busca por uma moda mais sustentável. No evento Fashion Revolution 2017, que aconteceu em diversas cidades do Brasil no último mês, discutiram-se as novas formas de fazer moda. “Podemos costurar a nossa própria roupa, ou até comprar tecido e pedir para uma costureira do bairro fazer uma peça, que é uma ótima alternativa”, explica a estilista Flávia Aranha.

 

E moda para deficientes. Já ouviu falar? É conhecida como moda acessível, mas não está  ligada ao valor comercial, e sim aos benefícios que ela trás para esse público. O professor José Luis, mestre em modelagem da construção, trabalhou junto com alunos do Senac em um projeto científico para deficientes. “Pensamos em algo que coloca o maior número possível de pessoas que não são consideradas normais dentro de um guarda roupa com peças sem apelo estético e que são úteis”, explica (Veja mais em hiperlink).

MODA E PROXIMIDADE SOCIAL CAMINHAM LADO A LADO

Moda

(IN)VISÍVEL

A moda também é boa, bonita e barata

A moda acessível foi uma das formas usadas pelos consumidores para driblar o cenário da crise econômica que o país está vivendo. Neste contexto, veículos de comunicação que pregam esse lifestyle estão ganhando espaço na mídia.

 

O blog “Pechincha Is The New Black” é um exemplo do qual propõe este estilo de vida mais acessível. Criado por três alunas de jornalismo da ESPM-SP, a plataforma vem conquistando cada vez mais o público leitor. “Nosso diferencial é ter essa pegada mais acessível. A maioria dos blogs de moda indicam marcas e produtos que custam muito caro e nem todo mundo tem esse poder de compra”, explica Bárbara Santucci, co-fundadora do blog.

 

Segundo as autoras, a ideia de desenvolver o site surgiu durante a disciplina de Introdução ao Jornalismo, no primeiro semestre do curso. A proposta inicial do professor era de que os alunos criassem um veículo de comunicação que pregasse uma ideia inovadora dentro do mundo jornalístico. Como as três amigas já eram apaixonadas por moda, não foi difícil imaginar que este seria o tema principal de seu projeto.

 

“Nós víamos dentro do nosso círculo social as pessoas reclamando dos preços das lojas de marca, dizendo que queriam se vestir tão bem quanto a gente e sem gastar muito. Ninguém acreditava que nossas roupas eram de lojas de departamento”, conta Bárbara.

 

A estudante também ressalta que se vestir bem não é sinônimo de ter e comprar roupas caras, “é lógico que tenho peças no meu guarda-roupa que custam um pouco mais caro, mas a grande maioria é bem baratinho. Se vestir bem não é necessariamente caro”.

 

A modelo Amanda Soares é leitora do blog e segue a mesma linha de pensamento. A jovem de 21 anos é blogueira e confessa que não gasta muito para conseguir montar seus looks. “Compro minhas roupas em brechó. Invisto o dinheiro que ganho na minha faculdade e não sobra muito para roupas e acessórios. Não é difícil encontrar roupas bonitas e baratas, só é preciso ter paciência e procurar bastante”, conta.  

 

No entanto, apesar do custo ser um tópico importante dentro da moda acessível, a caracterização de um estilo próprio também é essencial. Giovanna Spilborghs, também co-fundadora do Pechincha, diz que um dos objetivos do projeto é estimular seus leitores a adaptar suas dicas a seu estilo. “Nós não ditamos uma moda, nós damos alternativas com preços baixos. Cada uma de nós tem um estilo próprio e buscamos sempre mostrar isso ao nosso público”, finaliza.

 

O blog oferece temas que vão além de dicas de beleza, abordando assuntos atípicos, como o mercado restrito da moda Plus Size. Elas também procuram trabalhar com editoriais fora do padrão, com meninas de diversos estilos, cores de pele e tipos de cabelo. As autoras tratam o blog como, segundo Giovanna Spilborghs, um meio de comunicação de moda e bem-estar.

 

Outra solução para aqueles que procuram a moda acessível, são os brechós de luxo. Locais onde são vendidos itens de alto padrão com valores reduzidos. Um deles é o Degriffée, o qual está localizado em Indianópolis, zona sul de São Paulo. Instalado na cidade, em 1977, foi o primeiro brechó de luxo da capital.

 

 

Para aqueles que não têm condições financeiras para pagar por itens de alto padrão, existem alternativas como o brechó de luxo Degriffée, localizado em Indianópolis, zona sul de São Paulo. Instalado na cidade, em 1977, foi o primeiro brechó de luxo da capital.

 

A ideia do empreendimento surgiu na Inglaterra, há mais de 50 anos, pela Condessa de Windsor. A proposta é deixar artigos de luxo com valores mais acessíveis. Os produtos chegam a custar de um quarto a um décimo do valor original. Segundo a proprietária, Claúdia Delcorona, os preços variam de acordo com a grife, o tecido e a condição da peça.  “Vendemos peças como roupas, sapatos e bolsas. Tudo o que veste uma mulher”, afirma.

 

Em São Paulo, não é difícil encontrar alternativas para pessoas que buscam estar na moda e não desembolsar muito, assim como materializar as dicas de sites online.  

Sustentabilidade na moda: Novas alternativas

Neste cenário de necessidade de economia acessível dentro do mundo da moda, a problemática “sustentabilidade” fica em segundo plano.

 

A moda sustentável tem o objetivo de trazer para o mercado têxtil - que de acordo com a Associação Brasileira de Indústria Têxtil e Confecção (ABIT) é o segundo segmento que mais polui o mundo, descartando cerca de 12 toneladas no mundo de resíduos têxteis - uma alternativa que garantisse uma produção mais limpa e correta.

 

No entanto, essa moda sustentável sempre foi inacessível para o público das classes mais baixas, devido ao alto custo de produção destes materiais.

 

Na última semana de abril, do dia 24 ao dia 30, aconteceu o Fashion Revolution Week , uma feira de moda que acontece todo ano em mais de 20 estados brasileiros dentre eles: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Goiás. Essa edição do evento teve como objetivo discutir as novas formas de moda sustentável e alternativas para esse novo mercado.

 

Flávia Aranha, estilista e participante da mesa de debates intitulada como “Design Para a Sustentabilidade”, propõe alternativas que podem garantir uma moda acessível e sustentável. “Precisamos entender as práticas que geram menos consumo de energia e tempo para potencializar mais a nossa matéria-prima para que isso gere uma redução de custo”, explica Flávia.

 

A estilista ainda afirma que é preciso trabalhar na conscientização do grupo das classes C e D, já que estas são muito vulneráveis à publicidade e mídias que estimulam cada vez mais a combinação consumo e crédito. Para ela, além disso, ensinar práticas como reuso tem papel fundamental, quando o assunto é sustentabilidade.

 

Flávia conclui que há como o consumidor se emancipar no mercado e que é papel das indústrias e empresas criarem soluções que viabilizem a diminuição de custo. Ela diz que, acima de tudo, o consumidor precisa se conscientizar e entender que é preciso ter menos roupa em número e que estas sejam com mais qualidade.

 

No entanto, a consumidora Roberta Braga tem indagações sobre isso. “É fácil ter um discurso de que ter menos roupas é o certo, mas, no dia-a-dia, as coisas não são fáceis assim. A gente precisa se vestir, isso custa caro e nem todo mundo tem condições de bancar isso”, declara.

D(eficiência) e acessibilidade

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Digitar “moda acessível” na barra de buscas do google irá apresentar inúmeros resultados relacionados à acessibilidade financeira, no entanto, este termo significa muito mais do que apenas dinheiro. A permissividade da moda àqueles que não possuem condições físicas consideradas normais é fundamental não só para uma maior integração social dessas pessoas, mas também para impulsionar a autoestima delas.

 

“Nosso objetivo era colocar o maior número possível de pessoas que não são consideradas normais dentro de um guarda roupa”, conta Andrade sobre o projeto de iniciação científica que orientou no curso de moda do Senac. “Olhei com carinho para as pessoas que são cadeirantes, para as que não tem pernas, braços, ou que, muitas vezes, não conseguem nem sair da cama”, complementa.  

 

Durante o ano de pesquisa, o professor de moda conta que ele e os alunos criaram inúmeras peças de roupas que seriam úteis na vida dos deficientes e que permitiria uma mobilidade independente dessas pessoas. “Ninguém para pra pensar nisso, mas qual seria a necessidade de uma manga comprida para quem não tem braços? De repente, colocar uma alça reforçada seria muito mais útil para ele ou ela e muito mais bonito também”.

 

Andrade também conta que a materialização de um estilo pessoal fez parte de toda a elaboração do projeto “todas as roupas criadas para cadeirantes e etc são muito espalhafatosas, mas será que é isso o que elas querem vestir de verdade? Será que elas não prefeririam algo prático que combinasse com o estilo pessoal delas?”. Ele ainda apela para o sentimentalismo e finaliza “deficientes merecem ter liberdade para ser quem quiserem”.

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